Tuesday 17 December 2013

Newark's BRAZUCAS' origins



Brazucas, U.S.A.

Not even in my wildest dream had I ever imagined - when I first thought about moving to the U.S.A. - that I would live in an American city where I could go down Main Street and meet fellows who spoke my own language. Not even in São Paulo I would see so many familiar faces on the streets as in Newark, N.J. I should add that 'Main Street' here is none other than Ferry Street in the Ironbound, Newark, N.J. in the early 1970s

The Ironbound section of Newark, N.J. had been chosen by Portuguese migrants  who abandoned the Massachusetts industrial area around Boston whose shoemaking industry was in decline circa 1910.  

Coisa que eu nunca esperava quando planejei ir p’ros U.S.A. é que eu viveria numa cidade norte-americana onde, andando pelas ruas, encontraria fulano, sicrano e beltrano que já era seu conhecido, além de conterrâneo. Nem no próprio Brasil, pelo menos na cidade de São Paulo, a gente tem essa experiência. Isso só acontece em cidade do interior. Newark, de-repente, era uma cidade-do-interior, onde você desce a Ferry Street e diz ‘Oi’, ‘Tudo bem?’ e coisas afins.

A brasileirada gostava de conversar sobre como chegara aos Estados Unidos. Naquele tempo ainda não havia casos de gente atravessando a fronteira mexicana à nado, dentro de porta-malas de carros ou caminhando pelo deserto do Arizona, como nos dias de hoje.  Aquele tempo era mais civilizado que agora. A maioria dos brazucas tinha chegado aos EUA de avião e gostava de citar nomes de companhias aéreas, que naquele tempo eram principalmente a Braniff International e Aerolineas Peruanas. Essa última era famosa por ser a mais barata e fuleira. Diziam que algumas família traziam até galinhas. Obviamente isso era apenas força-de-expressão, para caracterizar a ‘carrier’ como ‘pau-de-arara’ aéreo.

A maioria dos brasileiros era composta de mineiros, isso não há duvidas. De-repente a gente começava a distinguir nomes de várias cidades mineiras, como Governador Valadares, com seu contingente esmagador, Belo Horizonte, sua capital, e outras cidades que ‘popped up in conversations’. 

Surpreendente também foi a constatação do número de paraenses que viviam por lá. Conheci vários paraenses e sempre fiquei encafifado, querendo saber a razão disso. Foi preciso o aparecimento da Internet para eu, finalmente, inferir a razão dos paraenses terem sido os primeiros brasileiros a imigrarem para essa região.

Origem dos portugueses de Newark, N.J.

A presença de portugueses em Newark vem das décadas de 1910 e 1920, quando houve uma debandada deles de Massachusetts e outros estados de New England (Nova Inglaterra), cuja indústria de calçados  estava em declínio. Os sapateiros lusos mudaram-se em bandos para a região de Newark, N.J. para trabalhar numa industria diversificada em expansão.

Origem dos brasileiros de Newark, N.J.

O português Daniel Albino Rodrigues e sua mulher Elvira, chegaram em Newark em 1925. Eles vinham de Belém, do Pará, onde trabalharam na indústria da borracha, que entrara em decadência. Desembarcaram nas docas do Brooklyn-NY, que era onde a borracha brasileira era descarregada, e vieram se juntar aos portugueses oriundos de Massachusets, que haviam se estabelecido em Newark 15 anos antes. 

Ora, não precisa de muita inteligência para inferir que os Rodrigues eram conhecidos de vários paraenses que fizeram o mesmo caminho que o casal. Portanto aí está a explicação do porque os paraenses serem os primeiros brasileiros a povoar a comunidade dos ‘futuros brazucas’ de Newark.  

Daniel 'Albino' & Elvira construíram uma casa para si na 91 McWhorter Street, em 1946, e viveram lá até seus falecimentos na década de 80.

os nomes dos pioneiros Daniel Albino e Elvira Rodrigues se transformaram em nome de praça em Newark, N.J. 

leia mais sobre o assunto: http://newarkhistory.com/mcwhorterst.html

Most of the Portuguese in Newark immigrated in the 1950s or after, yet, the Ironbound has had a substantial Portuguese presence since the 1910s-1920s, when Portuguese immigrants fled the declining shoe industry in New England to find work in booming industrial Newark.

91 McWhorter Street was the home of Dan and Elvira Rodrigues, "the Mayor and Mayoress of McWhorter Street." Daniel "Albino" Rodrigues came to Newark in 1925 at age 23, from Portugal by way of the Brooklyn docks and the rubber industry of Brazil. He and Elvira ran Dan's Friendly Oil Service in the Ironbound. They built this house themselves in 1946 and lived here until they died in the 1980s.

Dan and Elvira were very community spirited. In 1959, Dan & Elvira set sail for Portugal carrying 66 trunks of clothing for the poor. Elvira was active in the Democratic party, registering thousands of new Americans as first time voters. Dan was a trustee of the Newark Public Library.

McWhorter Street was named after the Rev. Dr. Alexander McWhorter, the Scotch-Irish pastor of the Old First Presbyterian Church. McWhorter was a supporter of the American Revolution, a historian of Newark, and the organizer of Newark's first July 4th parade, held back in 1788.
Avião da PanAm sobrevoa a cidade de Belém-PA circa 1952. Belém era escala obrigatória de aviões provenientes do Rio, Montevideo ou Buenos Aires dirigindo-se aos Estados Unidos.

Manhattan calling!

Desde o início de meu plano de ir morar nos EEUU, eu pensava que meu destino final seria a ilha de Manhattan, que é New York propriamente dito. Mas o destino, pelas mãos de dona Lícia, me jogou algumas milhas à oeste de tal paraíso. 

Cheguei nos U.S.A. num sábado, 2 Outubro 1971. No final do dia eu já estava estabelecido num quarto, que dividia com um português que tinha chegado do Brasil 2 semanas antes que eu. Tendo dormido o sono dos justos, no domingo de manhã, acordei com muito entusiasmo, pois queria continuar minha 'inspeção' da Ilha de Manhattan, que tinha visto muito pouco no sábado. 

Não podia perder um minuto. Logo de manhã desci a Wilson Avenue, entrei na Ferry Street até lá em baixo e peguei o ônibus, que saía de debaixo das linhas férreas da Pennsylvania Station de Newark, que cruzam a Market Street. O preço do ônibus era 2 dólares e alguns centavos; eu não sabia que existia o trem PATH, que custava 4 vezes menos que o ônibus. 

Mas, ir para Manhattan de ônibus era muito gostoso, pois corria-se por estradas aéreas, e a paisagem era da mais interessante, pois, sendo outono, as cores das árvores eram de avermelhadas a amareladas, até chegarem a um marrom forte e daí, as folhas caírem mortas no chão. Sempre um espetáculo aos olhos a mudança outonal de cores das árvores.

Depois da New Jersey Turnpike o ônibus entra no Lincoln Tunnel, atravessando o rio Hudson por debaixo, para já subir pela rampa até o 4o. andar do Port Authority Bus Terminal. Deixando o ônibus, desce-se várias escadas-rolantes até a Eighth Avenue com 41st Street, anda-se um pouquinho à esquerda e já entra-se no burburinho da 42nd Street.   

Tudo isso era uma festa para os meus quatro sentidos. Na 42nd Street anda-se um quarteirão até a 7th Avenue & Broadway, e você já está em Times Square. Isso era festa para minha alma. Dobrando-se à direita vai-se em direção ao Empire State Building, na 34th Street. Dobrando-se à esquerda v. vai dar no Rockfeller Center, 46th Street e Central Park. Como diz a musica: ‘they say the neon lights are bright on Broadway / they say there's always magic in the air’. Neon lights por todos os lugares.  As luzinhas piscando nas marquises dos cinemas da 42nd Street. 

Me lembro que certa tarde amena e ensolarada, talvez ainda em outubro, fui até o Central Park. Sentei-me por lá para apreciar a paisagem. Havia um rapaz norte-americano por perto, vestido num casaco de exército alemão, ouvindo um aparelho de som. Eu comentei alguma coisa sobre os Rolling Stones, já que estava tocando ‘Brown sugar’. O rapaz, que talvez não quisesse conversa, foi irônico e comentou algo que os Stones eram os melhores do mundo. Logo em seguida tocou ‘Wild horses’, linda balada que eu ainda não conhecia.  Notei que havia uma relutância da parte dele em admitir que eu, sendo um ‘estrangeiro escuro e ignorante’, pudesse gostar do ‘supra-sumo’ do rock-branco. De-repente passou um helicóptero por perto, ele o apontou e perguntou se existia helicópteros no meu país de origem, com deliberada intenção de me rebaixar. Depois disso ficou bem claro que o desdém inicial dele havia se transformado em quase agressão, algo que eu experimentaria inúmeras vezes em minha estada por lá. Esse foi meu primeiro contacto com o preconceito e a intolerância racial dos norte-americanos brancos. Foi meu ‘batismo’ na terra do Tio Sam, onde Igualdade é uma palavra que só existe escrita na Constituição ou livros de filosofia, pois Igualdade, na verdade é um mito. 

Mesmo assim eu não esmoreci. Caminhando pela Eighth Avenue eu passei por uma loja de disco e comprei o LP ‘Parsely, Sage, Rosemary and Thyme’, de Simon & Garfunkel, pois eu achava a capa bem bonita. Toda vez que ia a Manhattan eu comprava um LP. Um luxo que eu não podia fazer no Brasil. 

Nessas primeiras semanas eu fui assistir ao documentário ‘Gimme shelter’, dos Rolling Stones, onde o Mick Jagger cantava justamente ‘Wild horses’, uma musica muito linda, realmente.  Foi num daqueles cinemas da 3rd ou 1st Avenue, que são mais ‘chics’.

Na segunda-feira, dia 4 de Outubro 1971, eu conheci os outros três moradores do quarto contíguo ao nosso.
McWhorter & Lafayette Street.
90 McWhorter Street - the house Daniel and Elvira lived since the 1920s.
Within the red circle are McWhorter & Hamilton Streets. The smaller red circle on the right is 112 Ferry Street, where Tia Eugênia used to have her newsagency, a point of congregation of Brazilian expats in the late 60s & early 70s. 
This is Hamilton Street, one of the last brick streets in Newark. Another brick street is North End, which was featured in On Broadway.

In Phillip Roth's 'American Pastoral', Merry Levov, a 1960s terrorist, eventually renounces all violence, becomes a Jain, and settles here on Hamilton Street.
a larger map of the area where one can see Independence Park aka Mosquito Park by Brazilians who lived in the vicinity.